miércoles, 13 de abril de 2011

A Peste negra

ACONTECIMENTO - A Peste Negra

"No ano do senhor de 1348 houve em quase toda a superfície do globo uma tal mortalidade como raramente se terá conhecido outra. Os vivos mal chegavam para enterrar os mortos ou evitavam-nos com horror (...). Mais, coisa temerosa de ouvir, os cães, os gatos, os galos, as galinhas e todos os outros animais domésticos sofriam a mesma sorte (...). A este mal acrescentou-se outro: correu o ruído de que certos criminosos, particularmente judeus, deitavam nos rios e fontes venenos que faziam engrossar a peste. Por isso, tanto cristãos como judeus inocentes foram queimados, mortos, quanto é certo que tudo aquilo provinha da constelação ou da vingança divina."

Vitae papirum, Avenionensirum, Clemente VI, Prima Vita






A Peste Negra foi a epidemia que mais profundamente atingiu a Europa no séc. XIV, transmitida através da pulga do rato preto, originário da Ásia. Vinda do Oriente, pelo Mar Negro, teve o seu primeiro porto de entrada em Itália, através dos barcos de comércio. As pessoas infectadas manifestavam sintomas estranhos tais como manchas negras à volta da picada, gânglios inflamados no pescoço, nas axilas e nas virilhas, febres altas, calafrios e enjoos.
A progressão da doença era tão rápida que, num ou, no máximo, em dois ou três dias, o doente falecia. As condições de vida da população na época também ajudaram a esta progressão rápida da doença e à sua mortífera proliferação: as habitações deste tempo possuíam uma única divisão, ventilada apenas por uma janela pequena, o que facilitava a propagação de doenças a todos os membros da família, quando um único era contaminado; era comum a coabitação entre animais de criação e as pessoas; o aquecimento da casa era feito por uma fogueira e o fumo saia por um pequeno buraco no tecto, pois não existiam chaminés (o fumo do ambiente e a humidade contribuíam também para a propagação de vírus); não existia uma rede de esgotos, sendo eles feitos a céu aberto; a população tinha sofrido um aumento demográfico de tal ordem que a fome se tornou um grave problema (a população sem meios de se alimentar, tornava-se ainda mais frágil e mais propensa às doenças). Pensa-se que terá dizimado metade da população europeia em poucos anos, semeando o medo e o terror e fazendo desaparecer comunidades e cidades inteiras.












Tal mortalidade provocou grandes desequilíbrios nas cidades, no Estado, nas fronteiras sociais e implicou a mudança de populações entre aldeias e regiões, alterando, assim, os circuitos comerciais e criando novos ricos. O medo e o desespero face a esta epidemia levaram algumas populações a procurar “culpados” entre judeus e leprosos que, por isso, chegaram a ser perseguidos e massacrados. Houve um ressurgimento das peregrinações aos locais piedosos, os donativos à Igreja e as cerimónias com procissões e flagelações colectivas. Apesar de todos estes aspectos negativos, deve-se à Peste Negra a expansão da construção de hospitais, albergarias e leprosarias, através das doações feitas por uma população profundamente aterrorizada. Tanto os próprios médicos como os farmacêuticos desconheciam uma forma de a tratar, de tal maneira que pensavam que se estivessem totalmente vestidos, com luvas, botas e uma máscara (semelhante à cabeça de uma ave), estariam imunes, o que não corresponde à verdade.